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Sobre o Autor e Sua Obra

Wellington Brandão, nascido em 3 de Agosto de 1894 na Fazenda Bom Sucesso, município de Visconde do Rio Branco, MG, de propriedade de seu pai, que também residia com a família na cidade vizinha de Ubá.
Filho de Olintho Brandão e Januária Carneiro e Castro Brandão, ele do Serro (MG) e ela natural de Ubá. Era o terceiro de uma prole de nove: Olintho, Gorasil, Wellington, Alaíde, Adail, Natail, Vitail, Stella e Lourdes.
Iniciou seus estudos no Ginásio São José, em Ubá, fazendo o curso complementar em Leopoldina, MG. Transferiu-se para o Rio, a fim de cursar a Faculdade de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro. Com a morte precoce do pai, trabalhava nos Correios promovendo seu sustento, assim como seus irmãos mais velhos (formados em Odontologia) o fizeram, e auxiliando na manutenção do custeio familiar. Diplomou-se em Direito em 24 de dezembro de 1918, pela Faculdade do Rio de Janeiro.
Em 19 de abrio de 1919, casou-se com Maria Moreira Brandão, natural de Rio Branco e filha de Dr. Francisco Carlos de Araújo Moreira e Maria das Mercês Silva Araújo Moreira.
Foi nomeado promotor de justiça da Comarca de Cássia, MG, em 1920, cargo que exerceu até 1922, quando se demutiu, transferindo-se para a cidade vizinha de Passos, montando escritório de advocacia. Dotado de elevados conhecimentos jurídicos, granjeou rapidamente reconhecimento profissional, sendo procurado pela clientela local e dos municípios próximos, mesmo porque, de acordo com a crônica popular, na advocacia civil jamais perdeu uma só causa, de vez que as selecionava com especial cuidado, movido pelo seu senso humano de justiça e pelos conhecimentos teóricos da legislação.
Teve onze filhos com sua esposa Maria, ou dona Sinhazinha, como era conhecida, sendo que os dois primeiros, Dirceu Moreira Brandão e Wellington Brandão Junior nasceram em Cássia, e os demais, Marília Brandão Lemos, Dayse Brandão Maia, Francisco de Assis Moreira Brandão, Carlos Olinto Moreira Brandão, Elmano Moreira Brandão, Yeda Brandão Andraus, Marlene Brandão Oliveira, Emanuel Moreira Brandão e Welmar Moreira Brandão são naturais de Passos.
A sua facilidade de expressão e o fulgor de sua palavra, firme e sagaz nas suas argumentações, de espírito inquieto, combativo e irônico, fizeram dele uma figura das mais admiradas em todas as camadas sociais, pela sua simplicidade inata, resultante e causadora de sua verve artística, capaz de captar a essência do ser humano, da alma humana, expressadas nos seus versos e nos seus escritos.
Inspirado poeta e prosador, iniciou-se ainda jovem na literatura, com a publicação, em 1920, dos poemas coletados no seu livro Deslumbramento de um triste (publicado pela oficina d’O Estado de S. Paulo). A poesia “À Minha Mãe” , desta publicação, encontra-se editada também em A mulher na Poesia do Brasil, coletânia organizada pela Da Costa Santos (Edições Mantiqueira, Belo Horizonte, MG, 1948).
Seguiu-se Seara da Emoção, poemas (Editora Anuário do Brasil, Rio de Janeiro, 1925). Este livro, assim como o anterior, Deslumbramento de um triste, são considerados de isnpiração parnasiano-simbolista.
Também deste ano (1925) consta a publicação de Ciranda (pensamento e emoção), pela Oficina d’O Estado de S. Paulo (registrado na Bibliografia de seu próximo livro, Bonecos de Pano e comentários sobre Ciranda em carta de 26 de março de 1926 a Carlos Drummond de Andrade).
Bonecos de Pano, livro de contos, surge em 1926 pelo Editorial Hélios, São Paulo.
Versátil e inquieto, engajou-se no Movimento Modernista de 1922 com Carlos Drummond de Andrade (com quem trocava frequênte correspondência), além de Múrilo de Araújo, Andrade Murici, Tasso de Oliveira, Cecília Meireles entre outros, pela participação na Revista Festa, editada no Rio de Janeiro de 1927 a 1934.
Foi a partir de 1926, com a edição de O Homem Inquieto, poemas (Irmãos Ferraz, São Paulo), que o poeta manifestou-se em toda sua plenitude, engajado no movimento de seu tempo, a cujo chamado não poderia fugir, pois que já houvera a Semana de Arte Moderna com todas as suas repercursões.
Segundo Soares de Melo, em O Homem Inquieto Wellington Brandão, com a afoiteza característica de um novo espírito estético, rompe desassombradamente com a rima, proporcionando a criação de novos ritmos. Andrade Murici o inclui na sua A Nova Literatura Brasileira, de 1936, que “indica a atitude mais característica dos que houveram por destino viver nestes tempos decisivos”. Acrescenta que Wellington Brandão, lá em Passos, sentiu a vibração do colosso irado e em cio”. E mais adiante: “ O Homem Inquieto é por isto um livro muito curioso. O estremecimento cívico foi tal que o poeta mais frequentemente se refugiou na região do pensamento do que da emoção desgovernada dos puros movimentos da alma”. De fato, Wellington Brandão participou efetivamente do Movimento Modernista, enquadrado no grupo da revista Festa, embora nao se considerasse “modernista”, mas apenas “moderno”, no sentido de que sempre olhou mais para adiante de que para trás, como citado em carta a Carlos Drummond de Andrade de 26/10/1926.
Conquanto se definisse moderno, isso não o impedia de enxergar o “Movimento Modernista” com o olhar crítico próprio de quem fosse antimodista. Distinguia as vantagens do avanço, sem deixar de desconfiar das licenciosidades ideológicas impostas por rótulos. Moderno, para ele, era quem vivia no seu tempo, cada um a seu prazo. Assim por exemplo, quem ousaria criticar a comtemporaneidade dos clássicos que vincaram a sua época e até hoje imã das boas ideias.
Em carta a Carlos Drummond de Andrade, datada de 16/02/1927, relata a edição da novela A vingança da mãe do esposo das cinco virgens, publicada na Feira Literária de São Paulo, Manifesto nº 3, em abril de 1927, editada por Herculano Vieira, em São Paulo. Cita também esta novela na bibliografia de Seara da Emoção.
Cabeça de Comarca, pequeno romance caricatural da vida mineira, foi publicado regularmente, por capítulos, na Revista Festa, em 1928, de acordo com a sua citação na carta de 12/07/1928 a Carlos Drummond de Andrade, e registra Cabeça de Comarca também na bibliografia de Bonecos de Pano.
Participou efetivamente da revista Verde, de Cataguases, MG, um dos veículos de divulgação do Modernisto, assim como colaborou com A Revista, periódico fundado por Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura, Francisco Martins Almeida e Gregoriano Carneiro em Belo Horizonte, circulando em 1925 e 1926.
Dentre os vários escritores a quem admirava, vale a pena registrar Godofredo Rangel, de quem foi particular amigo considerando-o um de seus ídolos pessoais, pela expressão de sua arte interiorizada, com quem trocava cartas e panaceias literárias.
Abgar Renaut é outro literato citado com frequência na sua correspondência com Carlos Drummond de Andrade, pelo qual demosntrava afinidades intelectuais e de amizade.
Em 1932 surge o livro de poemas satíricos Contos Municipais, editado pela Feira Literária de São Paulo, contendo poemas regionais de cunho satírico.
O Tratador de Pássaros aparece publicado em 1935, pela Editora Amigos do Livro de Belo Horizonte (2ª edição pel Edições Mantiqueira em 1952). Este livro é considerado antológico e sempre atual.
Em Finale, mais um livro de poemas editado em 1942 pela Tipografia Siqueira, São Paulo, retribui a poesia que o amigo Carlos Drummond de Andrade lhe dedica no livro Alguma Poesia, 1930, chamada “Igreja” (Carlos Drummond de Andrade, Poesia e Prosa, Editora Nova Aguillar, 1988, p. 15), com o poema “Ante as Igrejas Iluminadas”. Em Finale também consta o poema “ A Cidade Inocente” que já tinha sido editado em espanhol no livro Poetas jóvenes de America, de Alberto Guillén, M. Aguilar Editora, Madrid, 1930, onde Wellington Brandão aparece ao lado de Olavo Bilac, Cecília Meireles, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Pablo Neruda e Jorge Luis Borges, entre outros.
Quarta República, depoimentos, publicados pela Oliveira Costa Editores, Belo Horizonte, em 1951, estudo social e político, reflete a sua experiência na vida política brasileira, como deputado constituinte de 1946 e como cidadão politizado que era.
A publicação de seu último livro, Caminhos de Minas (cousas & vultos) ocorre em 1958, pela editora Oscar Nicolai, de Belo Horizonte. Esta obra é utilizada como obra didática, pela justeza de suas observações sobre o povo e a terra dos mineiros, pelos quais era um apaixonado.
Outras obras são citadas na bibliografia de seus livros como inéditas ou em preparo:
Antífonas, poemas, citado na bibliografia de O Tratador de Pássaros, 1935.
A Antologia do Mineiro Fidelis Florêncio, crônicas e impressões, citado em Quarta República, 1951.
No Parlamento da Quarta República, discursos e estudos parlamentares, citado em Quarta República, 1951.
Contos sem Conversa (contos), citado em Quarta República, 1951.
Páginas Amarelas (critica administrativa e avulsos literários), citado em Quarta República, 1951.
Literatura Jurídica, econômica e social (vários trabalhos impressos), citados em Quarta República, 1951.
Em 12 de agosto de 1939 ingressou na Academia Mineira de Letras, na cadeira nº 8, cujo fundador foi Belmiro Braga, tendo sido sucedido por Édson Moreira e atualmente sendo de posse de Milton Reis.
Como jornalista, colaborou assiduamente nos jornais A Manhã, do Rio de Janeiro, Diário de Minas e Folha de Minas, de Belo Horizonte, onde, neste último assinava a seção “Contos do Interior” sob o pseudônimo Fidelis Florêncio.
Bucólico e amante da terra, teve sua pequena propriedade rural, inicialmente “Corredeira”, onde é hoje situada a Hidrelátrica de Furnas e depois “Morro Alto”, situada no município de Cássia, buscando sempre a harmonia com a natureza e sua força telúrica, sentimento que permeia sua poesia, em especial na sua fase inicial, como expressado nas estrofes finais de seu poema “Afinidade”, publicado no livro Seara da Emoção (1926).

... Por estas tardes de silêncio e cisma
Ó solidão dos campos e das serras,
Ó solidão da minha paisagem
É que eu vejo, é que sinto, é que percebo,
Que sou o teu mais terno companheiro,
Que sou o teu irmão mais deslumbredo.

Impelido pelo seu amor à terra, em 1928 fundou a cooperativa de laticínios Passos, que agrupou pecuaristas da zona rural de São Bento, instalando ali a fábrica de Manteiga Passos, que perdurou até 1940.
Polivalente nas suas atividades como advogado, escritor e poeta, fazendeiro, cooperativista e atuante como cidadão de espírito liderante, acabou inevitavelmente participando dos movimentos políticos locais e por longo tempo chefiou o partido Pato, tendo sido eleito por ele para vereador da Câmara Municipal de Passos.
Ao ser fundado o Partido Social Democrata (PSD) a ele se filiou candidatando-se e sendo eleito em 1945 a deputado federal constituinte. Obteve uma atuação destacada no Congresso Nacional, tendo sido escolhido membro da Comissão de Legislação e Justiça, apresentando importantes projetos de cunho social, entre eles, o da participação dos empregados nos lucros das empresas, que é hoje praticado sob a forma do PIS, o da criação da previdência rural, defendendo ferrenhamente os pecuaristas na ocasião assolados pela chamada Crise do Zebu, e patrocinadndo a vitória do projeto que prorrogou a dívida da pecuária por 10 anos. Atuou ativamente nas leis de defesa dos direitos da mulher e, em 1946, participou vivamente da Carta Constituinte de 46, tendo sido relator, colaborador e signatário desta Constituição.
Durante o governo Bias Fortes foi convidado a chefiar a Procuradoria Geral do Estado de Minas Gerais, cargo que exerceu até ser nomeado Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado, posição na qual se aposentou.
Faleceu em 3 de maio de 1965 na cidade de Passos, MG.


Marília Brandão Lemos Morais

Belo Horizonte, outubro, 1995.